Hoje decidi compartilhar a minha opinião sobre um assunto que sempre será polémico e sempre suscitará divisões do mais variável possível. Em particular, porque vi uma notícia sobre um cidadão espanhol que decidiu pôr termo à vida da sua acompanhante, que possuía esclerose múltipla. Esta decisão não se apoiou no facto, claro, de a própria ter esclerose múltipla, mas pelas limitações e pela decisão da própria em querer efectivamente pôr termo à sua própria vida e não ser capaz de o fazer, pelo menos, não sozinha. Não fiquei, obviamente, imune a esta notícia, pelo o que ela representa e por assentar no facto, de um dia, talvez, eu própria poder estar na mesma posição.
Claro está e aqui vem a grande variabilidade de discussões, que mente sã e com apoios, supostamente com cuidados continuados e afins, podem retardar esta decisão de pôr termo à vida. Mas será assim tão linear? Claro que não. Eu, que por norma, me considero uma pessoa positiva, não sei se em situações limites como esta, não preferiria o mesmo. Ainda que hajam várias formas de nos alegrarmos, compreendo isto, atenção, até que ponto conseguimos manter a nossa sanidade sem nos movimentarmos, sem nos conseguirmos quase expressar, sem conseguirmos quase comer? Mesmo em situações de adaptações, em que vamos perdendo as nossas faculdades aos poucos, como nos vai acontecendo lentamente, considero que haja um ponto de saturação que possa existir realmente. Não consigo condenar esta pessoa por ter desejado uma morte tranquila, ainda que projectada pelo seu companheiro de longa data, companheiro este, que não pude deixar de admirar pela coragem que teve neste caso. Apenas posso dizer que nunca desejaria estar na posição nem de um, por ter de colocar um fardo tão grande como este, em cima de alguém com o qual partilhou uma vida inteira, nem de outro, por aceitar este fardo e conseguir colocá-lo em prática.
Muitas questões têm sido abordadas sobre este assunto, a que eu coloco é: até que ponto podemos decidir a nossa morte? Já que, maioritariamente, a nossa vida sofre com várias decisões externas que não passam por nós. Será que algum dia poderemos decidir quando morrer também? Eventualmente, pensando sobre isto, acho que gostaria de poder decidir. De qualquer forma, este assunto tem várias nuances, o que é hoje poderá não ser amanhã. Talvez este estigma também se associe bastante ao que a morte em si nos trás. Acaba ser sempre algo de quem as pessoas ainda hoje preferem não falar, muito em si, pelo medo do desconhecido, apesar de ser, até à data, a coisa mais fiável que temos. Ninguém vive eternamente. Quem nasce tem a certeza absoluta de que um dia, irá morrer. Por isso e como a vida é uma passagem muito curta, não se esqueçam de VIVER. Mas com viver digo, VIVER, não em função dos outros, mas em vossa função. Não em função de obrigatoriedades e responsabilidades, mas em vossa função. Não em função de medos e limites impostos, mas por favor, façam o que vos faz felizes. Muitas vezes digo, que se eventualmente, morresse amanhã, morreria feliz, porque sei que VIVI. E vocês?
Beijinhos e abraçinhos a todos. Um dia de cada vez ;)